segunda-feira, abril 25, 2011

  • Angell
  • FROZEN


    Olhou-se ao espelho percorrendo cada sulco, cada contorno. Demorando-se aqui e ali tentando se conhecer melhor e ver o que poderia transmitir aos outros. Um rosto pálido, cansado, baço e os olhos... Adentrando dentro das "janelas", eles procuravam algo sem dúvida. Estavam tristes, buscavam tanto e tanto faltava. Uma imagem, uma cor, um cheiro, um toque. Sensações que lhe queimassem os sentidos e a fizessem sentir-se viva. Queria a luz, o calor, o abraço do amor.
    Respirou fundo e pausadamente. Uma nostalgia que a agarrava ao passado, que a devorava permanecia intacta.

    Queria fugir de si mesma, encontrar-se renovada. Renascer novamente. Uma nova oportunidade da vida. Fugir como? Abanou a cabeça. Somos o que somos, a essência, o núcleo, está enraizado nos nossos actos, nas nossas vidas. Oportunidade? Sentia-se gelada por dentro e lá fora o calor queimava as calçadas. O ar era pleno de renovação trazido pela estação da prima que todos gostam. Talvez fosse o pólen que lhe fazia sentir-se com aqueles sintomas como de constipação. Talvez fosse o garrido das gentes mais jovens, em fatos multicolores onde a generosidade da pele saltava à vista, para quem o amanhã ainda vinha longe. Talvez a melancolia de um povo, de música triste e alma generosa a assalta-se neste momento.

    Pegou na escova e em frente do espelho escovou o cabelo em gestos lentos e repetitivos. Olhou a janela onde a luz inundava o aposento. Sentiu o calor nas mãos. Perfumou-se de um aroma forte, a necessidade de marcar, de permanecer e não evaporar como o álcool de um perfume mais frágil. Respirou novamente, como a ganhar coragem e de passos a principio vacilantes, uns mais seguros se lhe seguiram. Caminhou até à porta que a separava do aconchego, do recolhimento, da segurança que tinha; com o bulício, o borbulho de gentes e vida que se atropelavam para a pressa de viver e a urgência de sentir a vida a evoluir e florir.

    Sorriu por fim e de passo em passo misturou-se com a luz, os cheiros, os barulhos; numa mistura de sentidos e emoções. Estava mais perto, claro que sim. Caminhava já sem se sentir gelada, com a esperança do olhar que antevia e lhe aqueceria o coração.
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    Foto: FROZEN - A menina que gostava de ser chamada - Olhares

    Tendemos muitas vezes a permanecer no passado quando o presente não chega. Viver o agora para desenhar o nosso futuro é o que importa.

    Tenho dito! Fiquem bem!

    Angell